Biografia da Vida de Jan Val Ellam
No vasto e multifacetado universo da espiritualidade brasileira, poucas figuras são tão magnéticas, prolíficas e desafiadoras quanto Jan Val Ellam. Para seus seguidores, ele é um farol de conhecimento, um mensageiro incumbido de entregar as revelações da "terceira onda" para preparar a humanidade para uma iminente transição planetária. Para seus críticos, no entanto, ele é um dissidente perigoso, um autor que mistura ficção científica com temas espirituais, ou, em uma visão mais cética, um homem imerso em um complexo delírio.
Quem é, afinal, Jan Val Ellam? Um profeta dos novos tempos, um médium visionário incompreendido ou apenas um personagem envolto em situações que culminaram em previsões frustradas e retratações públicas? A resposta é tão complexa quanto a cosmologia que ele apresenta. Para entender o homem por trás do pseudônimo, é preciso esmiuçar a vida de Rogério de Almeida Freitas, o administrador de empresas que se tornou um dos mais instigantes e intrigantes autores do espiritualismo contemporâneo no Brasil. Esta biografia se propõe a traçar essa trajetória, desde suas origens em Natal até seu impulsionamento como um fenômeno digital, explorando os triunfos, as controvérsias e o legado de um homem que ousa dialogar com a complexa hierarquia cósmica.
O Início da Jornada: De Rogério de Freitas ao Chamado Espiritual
Nascido em 1959 na ensolarada cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, Rogério de Almeida Freitas teve uma infância e juventude que em nada prenunciavam seu futuro como um pensador espiritualista. Criado sob uma forte e tradicional influência católica, foi educado no prestigiado Colégio Marista, uma instituição que moldou a elite local por gerações. Sua vida parecia destinada a um caminho convencional, pautado pela estabilidade profissional e pela normalidade social.
O primeiro vislumbre de um destino extraordinário, no entanto, ocorreu de forma abrupta e inesperada. Aos 17 anos, durante uma viagem ao Rio de Janeiro, o jovem Rogério entrou em uma modesta loja de animais com a intenção de comprar peixes para seu aquário. Lá, foi abordado pelo proprietário, um senhor misterioso que, em vez de discutir preços e espécies, começou a falar sobre temas que destoavam completamente da realidade do adolescente. Aquele homem anunciou que Rogério havia sido o escolhido para uma missão monumental: trazer à tona as revelações da "terceira onda espiritual", um conjunto de informações cruciais para o futuro da humanidade. Surpreso e, naturalmente, cético, Rogério não deu maior importância àquelas palavras e seguiu com sua vida.
Mas o universo, segundo a narrativa de Ellam, não desistiria tão fácil. Se a predição foi ignorada, a vida se encarregou de conduzi-lo de volta ao caminho que desafiaria a ciência, a religião e as estruturas hierárquicas terrenas e multidimensionais. Aos 18 anos, ainda jovem mas já demonstrando uma mente inquieta, ele fundou o Instituto de Estudos Ufológicos Estratégicos. Na prática, o "instituto" era ele mesmo e seu velho Fusca, que utilizava para viajar pelo interior do estado potiguar, investigando relatos de avistamentos, contatos e abduções extraterrestres. Era o início formal de sua fascinação pelo cosmos e pelos mistérios que ele guardava em espírito.
Apesar dessa paixão latente, Rogério não abandonou a vida secular. Pelo contrário, construiu uma carreira profissional sólida e respeitável. Formou-se em Administração de Empresas e, através de concurso público, tornou-se gerente na Caixa Econômica Federal, um cargo de estabilidade e prestígio. Sua competência o levou ainda mais longe, alcançando o cargo de diretor da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Rio Grande do Norte (Fecomércio RN). Esses papéis de liderança no mundo corporativo e institucional coexistiram, por anos, com uma crescente e profunda imersão no universo do espiritismo.
Sua jornada dentro dos temas espirituais começou a ganhar força por volta dos 27 anos, em 1986. Após anos de ceticismo e investigação puramente ufológica, ele passou a vivenciar uma série de encontros e experiências que o empurraram para a aceitação de sua mediunidade. O padrão de eventos sincrônicos, como o primeiro encontro no Rio de Janeiro, parecia se repetir, com pessoas diferentes, em lugares distintos, abordando-o para falar sobre sua suposta missão espiritual. Aos poucos, o administrador Rogério de Freitas começou a ceder espaço para o médium Jan Val Ellam.
A Criação do Pseudônimo e a Revelação Cósmica
Em 1996, Rogério estava pronto para compartilhar com o mundo as informações que afirmava receber de fontes espirituais e extraterrestres. No entanto, ele enfrentava um dilema: como conciliar sua imagem de executivo e diretor da Fecomércio com a publicação de livros sobre anjos caídos, naves espaciais e a rebelião de Lúcifer? Para proteger sua carreira e criar uma separação clara entre suas duas vidas, ele adotou o pseudônimo que o tornaria famoso: Jan Val Ellam. Em uma entrevista anos mais tarde, no programa de Jô Soares, ele explicaria que o nome foi uma ferramenta para navegar nesses dois mundos aparentemente irreconciliáveis.
Sob essa nova identidade, ele publicou seu primeiro e mais impactante livro, A Revelação Cósmica. A obra era uma bomba no meio espiritualista brasileiro. Nela, Jan Val Ellam apresentava uma cosmologia complexa e audaciosa, que misturava elementos da teosofia, da ufologia, do espiritismo e de canalizações de uma forma jamais vista. O tema central era uma releitura da história do exílio de Capela, popularizada no espiritismo, mas com uma roupagem épica e intergaláctica.
Segundo a narrativa de Ellam, a história da Terra está intrinsecamente ligada a uma rebelião celestial liderada por uma entidade chamada Yel Luz Bell. Este e seus seguidores teriam se rebelado contra a autoridade criadora, devido a um vírus que surgiu após a corrupção de protocólos lógicos definidores de famílias de biodemos, ao detectar o que poderiamos chamar na contemporaneidade de "falhas da matrix" na criação, resultando em um conflito cósmico de proporções inimagináveis. Como consequência, espíritos e consciências foram trazidas a Terra, que foi isolada do restante do cosmos, tornando-se um "planeta prisão" para abrigar essas almas rebeldes em seu longo processo de reajuste moral.
Os ensinamentos de Ellam previam, no entanto, o fim desse exílio. A reintegração cósmica da Terra estaria próxima, e seria liderada por ninguém menos que Jesus. Contudo, este não seria o retorno do humano Jesus, o Messias tradicional das religiões abraâmicas. Em vez disso, um ser primordial que cedeu os códigos de seu DNA para a concepção do Jesus humano, ´quem voltaria em sua forma cósmica, a bordo de uma nave-mãe, liderando uma vasta "Confederação Intergaláctica" para, finalmente, restaurar a cidadania planetária da Terra e revelar a origem das almas exiladas.
Para adicionar ainda mais camadas de mistério, Jan Val Ellam afirmava possuir uma mediunidade visionária que lhe permitia contatar e enxergar diretamente uma vasta gama de entidades e situações pretéritas. Em seus relatos, ele dialogava com mentores espirituais conhecidos, como Ramatis e Bezerra de Menezes, e até mesmo com espíritos antiquíssimos envolvidos na rebelião assim como consciências dimensionais.
O Racha com o Espiritismo Ortodoxo
A publicação de "A Revelação Cósmica" e dos livros que se seguiram gerou um verdadeiro alvoroço no movimento espírita brasileiro. A ortodoxia, representada principalmente pela Federação Espírita Brasileira (FEB) e pelas federações estaduais, como a Federação Espírita do Rio Grande do Norte (FERN), rejeitou veementemente suas ideias. Para os espíritas tradicionais, alinhados estritamente à codificação de Allan Kardec e aos trabalhos psicografados por Chico Xavier, os ensinamentos de Ellam eram desvios perigosos.
Os críticos argumentavam que sua obra incorporava elementos estranhos (ufologia, teosofia, ficção científica), criando uma narrativa sincrética que poderia confundir os fiéis e diluir a "pureza" das informações trazidas pelos espíritos codificadores. A reação foi tão forte que seus livros foram expressamente proibidos nas livrarias da FERN e de outras federações. Jan Val Ellam tornou-se persona non grata em muitos centros espíritas, mesmo aqueles não oficialmente alinhados às federações, refletindo a profundidade da controvérsia.
Enquanto isso, suas ideias encontravam terreno fértil em grupos espiritualistas mais heterodoxos. Ele se tornou uma figura de destaque em círculos que menos ortodoxos. Sua conexão com o "Grupo Ramatis" e a fundação do "Grupo Atlan" em Natal consolidaram sua base de seguidores, que se viam como parte desse grande drama cósmico, muitos deles sendo considerados os próprios ex-rebeldes em processo de redenção.
A polêmica atingiu seu ápice quando surgiu a afirmação, entre alguns médiuns do Brasil, de que Jan Val Ellam seria a reencarnação do próprio Allan Kardec. Essa ousada alegação, que ele nunca confirmou ou negou de forma categórica, serviu para amplificar ainda mais as críticas, solidificando sua imagem como uma figura ímpar e atípica. Para seus detratores, a hipótese era uma heresia; para seus admiradores, era a prova final de sua importância missionária.
As Profecias, o Contato e o Grande Engano
A narrativa e os ensinamentos de Jan Val Ellam sempre esteveram permeados pelo despertar da iminência de grandes eventos que mudariam o curso da história humana. No final da década de 1990 e início dos anos 2000, essa expectativa começou a se materializar em eventos concretos. Em 17 de novembro de 1999, enquanto estava em um hotel na Via Costeira de Natal, Rogério relatou a pessoas próximas ter tido um contato direto e físico com um OVNI, um sinal que ele interpretou como uma confirmação objetiva de suas conexões extraterrestres. O relato acabou vazando...
Pouco tempo depois, em 8 e 11 de janeiro de 2000, o jornal local Diário de Natal noticiou avistamentos de luzes incomuns nos céus da costa potiguar. Rogério e seus seguidores interpretaram esses eventos como uma "despedida" das frotas extraterrestres, que estariam se retirando temporariamente antes do grande retorno. O interesse público cresceu, e a expectativa em torno de suas previsões atingiu um novo patamar.
Foi em 2006 que Jan Val Ellam fez sua previsão maisvousada. Em palestras e entrevistas, inclusive para a conceituada Revista UFO, ele anunciou com grande convicção que em 18 de novembro de 2006 ocorreria um contato massivo com civilizações extraterrestres. Este evento incluiria o retorno de Jesus em sua "autoridade celestial". Ele foi tão específico que estabeleceu um prazo final: caso nada acontecesse na data marcada, o evento ocorreria, impreterivelmente, até 30 de abril de 2007.
A agitação foi imensa. Seus seguidores se prepararam, aguardando com ansiedade e fervor o cumprimento da profecia. A comunidade ufológica e espírita, por sua vez, observava com enorme ceticismo. As datas chegaram e passaram. 18 de novembro de 2006 foi um dia como qualquer outro. O mesmo ocorreu com 30 de abril de 2007. O céu permaneceu em silêncio.
A decepção foi palpável e devastadora. A Revista UFO, que havia dado espaço para suas previsões, descreveu o episódio como frustrante, criticando-o duramente por estabelecer datas específicas que não se concretizaram. Os críticos do movimento espírita se sentiram validados, e as acusações de que ele era um "lunático", "obsidiado" e "fascinado" (termos espíritas para diferentes graus de influência espiritual negativa) se intensificaram. Artigos com títulos como "Jan Val Ellam Erra Duas Vezes" e "Porque a Previsão Falhou" circularam, documentando a falha. O engano o expôs a uma vulnerabilidade nunca sentida antes, levando-o ao ridículo e a uma avalanche de críticas pesadas.
A Ira Humana e o Recomeço
A frustração de Jan Val Ellam com o fracasso de suas previsões atingiu seu auge em 2008. Longe de se esconder, ele confrontou a situação de uma maneira profundamente humana e explosiva. Em 2 de novembro daquele ano, durante o programa de rádio "Orbum", Rogério de Freitas pediu desculpas publicamente às comunidades ufológica e espírita. Mas sua reação foi além de um simples pedido de perdão.
Ele revelou que estava escrevendo novos livros sob a influência de uma entidade que se identificava como "Javé" (Yahweh). Em um ato dramático, ele anunciou que havia deletado os arquivos e quebrado os CDs que continham esses trabalhos, chamando Javé de "ridículo" e acusando-o de uma profunda falta de sensibilidade humana por tê-lo induzido ao erro.
Em reuniões fechadas de seu grupo, o Atlan, seu desabafo foi ainda mais contundente. Sentindo-se traído pelas inteligências cósmicas que tanto defendia, ele ridicularizou extraterrestres e espíritos, chamando-os de "cretinos estúpidos", "imbecis" e "hipócritas", especialmente aqueles focados apenas em tecnologia, mas desprovidos de evolução moral e empatia. Foi a reação visceral de um homem cuja humanidade havia sido abalada, um mensageiro abandonado e enganado por suas fontes.
Nesse período, ele brincou amargamente que encerraria sua carreira como "anunciador de eventos", afirmando que o contato aconteceria "antes que sua cabeça esfrie", mas que ele não faria mais anúncios desse tipo. O ponto de inflexão de 2006-2007, embora tenha destruído sua credibilidade como profeta de datas, paradoxalmente o humanizou. Posteriormente, ele explicaria que o episódio foi mais complexo do que um simples erro. Segundo Ellam, a entidade de Javé havia lhe convencido a informar a data, mas que, propositadamente, tinha o plano de descredibilizá-lo. O motivo seria o fato de Jan Val Ellam não ter aceitado a proposta de criar uma nova religião e por ser contrário em seus ensinamentos em querer doutrinar seu público, buscando, em vez disso, emancipá-los — uma vontade oposta aos interesses de Javé.
O Impulsionamento Digital: Os ensinamentos no YouTube e seu Legado
Muitos previram que a falha das profecias seria o fim de Jan Val Ellam. Estavam enganados. Após um curto período de reclusão e reavaliação, ele manteve-se com notável resiliência, e adaptando-se à nova era digital. Nos últimos anos, Jan Val Ellam encontrou no YouTube uma plataforma poderosa para divulgar suas ideias, livre dos intermediários e das críticas das instituições tradicionais.
Seu canal se tornou um fenômeno, atraindo centenas de milhares de seguidores ávidos por suas longas e detalhadas palestras sobre a transição planetária, os bastidores da história oculta do planeta, a missão espiritual do Brasil e os complexos dramas cósmicos que ele continua a descrever. Sua oratória é calma, professoral e envolvente, cativando uma nova geração de despertos espirituais que valorizam a profundidade de seu conteúdo.
Com um legado de mais de 50 livros publicados e mais de 1.000 palestras realizadas no Brasil e no mundo, a contribuição de Jan Val Ellam para a espiritualidade contemporânea é vasta e inegável. Seu trabalho se destaca por preencher um vácuo existencial ao promover uma profunda recuperação ancestral dos registros mitológicos de todo o mundo, tecendo uma narrativa rica e coesa que oferece sentido em meio a um mundo caótico.
Longe de ser apenas um enigma, Jan Val Ellam firma-se como uma das vozes mais corajosas e necessárias de nosso tempo. Seus ensinamentos não buscam criar seguidores, mas sim inspirar pensadores livres, desafiando paradigmas e convidando cada indivíduo a despertar para uma consciência cósmica mais ampla. Em uma era de profundas transformações, sua obra representa um farol para aqueles que buscam não apenas respostas, mas a emancipação de seu próprio entendimento sobre os mistérios da vida e do universo.

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